quarta-feira, setembro 24, 2003

A VIDA COMO ELA é

A pior coisa do mundo é ter 13 anos

Tenho um vizinho que é um papagaio. E pior, é um papagaio que não sabe falar. Então ele grita, crééééé, crééééé. Tudo bem, não me importo. É melhor do que barulho de ônibus ou britadeira. Mas o negócio é que o papagaio, de uns dias pra cá, está aprendendo a falar. Começou, obviamente, com "loro!" e "dá o pé, loro!". Depois ele grita "Rafael!". Ele é capaz de passar uma manhã inteira gritando "Rafael!", "Rafael, vem cá!" "Rafael, cala a boca!". Às vezes mistura as bolas e sai "dá o pé, Rafael!", e o mais perturbador: "Rafael, loro!".
Fico pensando quem é o Rafael. Desconfio que é um adolescente, com a típica mãe que fica o dia inteiro na orelha, "Rafael, vem almoçar!", "Rafael, sai daí!", "Rafael, vem cá!", "Rafael, cala a boca!". É duro ser adolescente. Não existe nada pior do que ser um moleque de 13 anos. Tudo o que você quer é ouvir Sepultura no máximo e sua mãe manda baixar o volume, você sonha em beijar a menina de 15 e ela nem sabe que você existe, você tenta a menina de 13 e ela só quer beijar o cara de 15, você quer viajar o mundo com uma mochila nas costas e sua mãe te manda escovar os dentes, você não tem grana, tem a voz desafinada, espinha na cara e ninguém quer saber de você. No caso do Rafael, então, ainda tem o papagaio para tirar uma! Inferno!

Toda vez que encontro um moleque de 13 anos, afundado em uma cadeira, entediado até os ossos, com aquela típica expressão de desespero, recomendo: fica aí sentado e espera o tempo passar até você chegar aos 16. Não demora muito, passa rápido, eu sei como é. Aliás, acho que o ser humano, ao chegar aos 13 anos, deveria hibernar como um urso. E só acordar aos 16. Pronto, estaria tudo resolvido em um piscar de olhos.

Mas não, a gente tem que passar por isso mesmo, tem que sofrer! É como uma conversa que tive com um o Áurio, caseiro de um sítio lá no interior. Ele estava me contando que apaga queimadas na mata com uma palha na mão. Aí eu disse, mas como é que você aguenta toda aquela fumaça? Ele foi lacônico: Mas tem que aguentar!

É isso aí, tem que aguentar!

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