terça-feira, setembro 23, 2003

O Fato e a Lenda - 23-set-MMIII

O Curupira

De origem tupi-guarani. Curupira (“curu”=”curumirim”=menino + “pira”=corpo ==> corpo de menino) também chamado Caapora ou ainda Caipora (“caá”=mato + “pora”=habitante ==> habitante da floresta).

Este é um ente “politicamente correto” do folclore brasileiro. Há, como sempre, histórias variantes, mas teríamos, como linha mestra, a seguinte: é um indiozinho moreno de cabelos vermelhos e dentes verdes. Tem os pés virados para trás.
Nasceu entre os seres da floresta e era o preferido do Deus Tupã, que admirava sua inteligência, obediência e dedicação aos amigos da natureza. Entretanto, Anang (o diabo da floresta), com ciúmes, raptou o menino ainda novo e o levou para fazer um estágio no inferno, onde aprendeu todo tipo de malandragens e estripulias. Voltando ao seu habitat, passou a ser o guardião da floresta, inimigo daqueles que agridem a natureza.
Não se importa com aquele que caça para comer ou derruba árvores para construir sua moradia, mas ataca o caçador que mata por diversão ou por pura maldade e aqueles que devastam a floresta por cobiça. Trata especialmente mal aqueles que matam a fêmea que esteja prenha ou segurando um filhote. Entre suas artimanhas, confunde o caçador, fazendo com que o mesmo se perca na floresta; faz com que sua arma nunca mais atinja qualquer alvo; desmancha machados e serras; cria fantásticas alucinações na mente de quem matou um filhote, fazendo com que o mesmo enxergue no animal morto um filho ou ente querido. Seus pés são invertidos para que o inimigo se desoriente ao seguir seus rastros.
Sua figura é ligada à má-sorte que pode trazer a quem lhe confronta. Há muitas variantes da lenda, que existe em toda a América do Sul: pode ser uma mulher unípede (mãe da floresta); pode andar montado em um porco do mato; pode ser anão, gigante, peludo e seus olhos podem ser vermelhos.
Há – como usualmente acontece – vários aspectos didáticos na lenda do Curupira. Por exemplo: a macaca fêmea (iguaria entre os índios) não foge quando está segurando um filhote recém nascido. Fica parada, protegendo a cria, tornando-se alvo fácil para os caçadores. Daí, a “penalidade” especial aplicada pelo zeloso Curupira a quem a ataca.
No Brasil, o Curupira dá nome a uma série de grupamentos de escoteiros, ONGs de proteção à natureza e até ao Boletim informativo do Quinto Batalhão de Polícia Ambiental de São Paulo. Foi escolhido por diversos órgãos como símbolo da preservação da natureza.
No interior paulista, é o patrono do Festival de Folclore de Olímpia (que boa idéia, hein?) e recebe, anualmente, durante a semana do FEFOL, a chave da cidade, a exemplo do Rei Momo, no carnaval.
Nós, que já elegemos tantos monstros de dentes verdes para dirigir nossa querida Londrina, precisamos de um Curupira que defenda nossos interesses com unhas e dentes, a exemplo do valente indiozinho.


Fênix (final)

Falando de politicamente correto....
Em que situação alguns dos envolvidos no Igapó Gate foram presos e por que eles ficaram tão poucos dias atrás das grades?
Repito e destaco: o que segue abaixo é apenas minha opinião, sem qualquer análise técnica dos autos, mas apenas uma impressão tirada dos noticiários da época.
Em primeiro lugar, destaquemos o brilhante trabalho de investigação realizado pelos agentes do Ministério Público. Sabiam os dignos Promotores que a frustração da sociedade seria incomensurável se, ao final de tudo, ninguém fosse efetivamente punido. Contudo, conhecedores do nosso sistema legal, tinham consciência de que a chance da efetiva punição penal era, de fato, muito pequena. Para que seu trabalho fosse coroado, pediram reiteradas vezes a prisão preventiva de alguns dos réus, aduzindo as mais diversas alegações técnicas. Em determinados momentos, alguns dos Juízes de Londrina acataram aqueles argumentos e determinaram a prisão dos principais envolvidos nas comprovadas falcatruas. Não há como negar que a reação da sociedade em geral foi positiva à maioria das prisões, eis que representavam um raro sentimento de que a Justiça estava sendo realizada. Tais prisões não tinham, contudo, sustentação técnica. Tanto assim que foram, uma a uma, derrubadas nas nossas Cortes Estaduais. As prisões, geralmente levadas a cabo em sextas-feiras, não duraram mais do que uma semana. Conclusão: foi um estratagema dos Promotores para que a sociedade tivesse uma resposta. Serve, com certeza, de subsídio para a elaboração de uma há muito esperada legislação específica para este tipo de crime.
Outro aspecto interessante é que o Ministério Público teve, ao que se comenta, uma importante contribuição de um dos envolvidos na maracutaia. Fosse nos Estados Unidos, por exemplo (sempre os Estados Unidos...), os Promotores poderiam negociar oficialmente uma redução da pena com o delator de primeira hora, aquele elemento fundamental para se desvendar o desenho da teia criminosa. Aqui, tiveram de tratá-lo de forma igual aos outros envolvidos. Receberam dele a colaboração espontânea do arrependido. Alguns até trocam de religião. É um caso em que a impunidade de um indivíduo é o preço para que os protagonistas recebam a efetiva pena. Outra boa idéia para a futura Lei.
Já repeti muitas vezes que eu acho que ninguém vai para a cadeia. O que não quer dizer que não houve (ou não haverá) outros tipos de punição. Quem conhece os envolvidos sabe que a maioria deles sofreu punições pessoais as mais severas. Muitos tornaram-se anti-sociais, alguns deixaram de viver em Londrina. Tiveram carreiras afetadas e sua família sofreu tanto ou mais do que o autor do fato. É outro aspecto que mereceria muitas semanas de comentário... vamos deixar para uma próxima oportunidade.
Baixou a poeira? Qual é o sentimento da sociedade ante a anunciada candidatura do Sr. Antonio Belinati à prefeitura de Londrina?
Em primeiro lugar, há que se dizer que a Lei deve ser cumprida. Se, após a cassação, ele recuperou seus direitos políticos, pode ser candidato e ponto final. Estamos num estado de direito e o meu recado principal é esse: a Lei foi ineficaz? Mude-se a Lei.
Pessoalmente, acredito que a maior lição que a sociedade Londrinense poderá dar a este Senhor é exatamente onde ele ainda se sente imbatível: uma fragorosa derrota nas urnas! Collor foi absolvido em quase todos os processos nos quais foi envolvido, não passou um dia na cadeia, manteve seu padrão de vida... mas não conseguiu viver sem sua droga, que era a política. Precisou de uma derrota no seu quintal para saber qual será o seu lugar na história. E a imagem que restou não foi a do homem de cabeça erguida andando de mãos dadas com a deslumbrada Rosane à saída do Palácio, mas a do desequilibrado filhinho de papai, descontrolado num palanque na Capital de um Estado que ele considerava de sua propriedade, ante a já inevitável derrota impingida pelo povo que ele considerava seu vassalo.
Belinati não acusou o golpe da cassação, que ele considerou “arquitetado pelas elites”; esquiva-se do gancho da lei, com a contratação de advogados que valem ouro e argumentos que valem lata. Seu ego sobrevive, contudo, porque acredita que o povo não o condenou. Tem o direito de colocar isso à prova. Cabe à sociedade dar-lhe a resposta. Pergunta o senhor do fundo da sala: e se ele for eleito? Bem... isto é uma democracia. Insisto que cabe à sociedade dar a resposta a este senhor. Dentro da Lei e das regras democráticas. Não há outra saída, se queremos de fato amadurecer em todos os sentidos.
Comentários? Faça-os através do meu e-mail. Prometo publicá-los e respondê-los.
Um grande abraço e até amanhã.

All Aboard!!!

Gustavo Lessa Neto

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