quinta-feira, setembro 18, 2003

O Fato e a Lenda - 18-set-MMIII

(continuação do dia 17/09/2003)

A Sociedade Civil Organizada! Seria a Sociedade Civil Organizada a culpada pela impunidade dos corruptos nossos de cada dia? No episódio que envolveu o ex-prefeito, criou-se um grupo que se autodenominava “Movimento pela Moralidade”, formado por dirigentes de algumas entidades que estariam por sua vez representando a sociedade civil organizada londrinense no processo de investigação e eventuais providências em relação aos ilícitos apurados. Funcionaria como uma espécie de ONG fiscalizadora e apoiadora de medidas efetivas que satisfizessem as expectativas da sociedade civil não organizada.
Efetivamente, acompanharam de perto as investigações: participaram de reuniões; cobraram atitudes das autoridades curitibanas; deram explicações pela televisão e, de alguma forma, deram respaldo ao trabalho dos Promotores. Porém, o grupo dissolveu-se no momento em que a sociedade não organizada mais esperava sua atuação: o momento de garantir punição aos eventuais culpados pela subtração do erário público. Contudo, se é fácil constatar que não cumpriram a íntegra de seu papel, também resta evidente que não são eles os culpados pela impunidade. Nossa pergunta principal fica, mais uma vez, sem resposta.
A Igreja. A poderosa Igreja, com seus indefectíveis dogmas, poderia ser considerada a culpada pela impunidade? Definitivamente, não! Registre-se que a grande imprensa e a sociedade civil organizada somente tomaram o definitivo impulso para sua mobilização após uma importantíssima e significativa visita do Arcebispo londrinense ao Fórum de Londrina, numa atitude ao mesmo tempo corajosa, conveniente e respeitosa. Posteriormente, uniram-se em reuniões ecumênicas de apoio ao trabalho do MP. Além disso, caberá à Igreja a provavelmente única punição dos usurpadores do dinheiro do povo: o juízo metafísico, o juízo espiritual, a Divina Providência.
O Povo. O Povo é um dos últimos da nossa lista de suspeitos. O Povo, essa entidade amorfa da qual nós fazemos parte e à qual nos referimos na terceira pessoa. O Povo e sua cultura maunaímica, tupiniquim, terceiro-mundista. Sim, o Povo brasileiro é tudo isso e mais um pouco, mas não pode ser declarado culpado, pois, antes de tudo, é vítima. Se não tem a plena consciência da necessidade da punição, é porque é mal liderado, é maltratado, é porque sua elite não faz por merecer as benesses de que desfruta às suas custas.
Os Advogados. Seria conveniente poder culpar os Advogados. Daria uma série de ótimas piadinhas na Internet e reforçaria a demonização da classe, bastante em voga em nossos dias. Mas os Advogados somente desempenharam as funções definidas em seus juramentos, eis que até o mais cruel e confesso dos assassinos tem direito a uma defesa eficiente.
Dedicarei o próximo texto a justificar meu veredito: a Lei! A Lei é culpada pela impunidade dos corruptos. Amanhã, discorreremos sobre o tema (e sobre esperança e coragem).

(continua amanhã)


All aboard!!!

Gustavo Lessa Neto
(Advogado, mas de bem com a vida)

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